Direitos humanos em tempos de crise: os reflexos do coronavírus no compliance estatal com a sistemática internacional

Angela Jank Calixto | Biografia
Universidade de São Paulo, Brasil
Luciani Coimbra de Carvalho | Biografia
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil

Resumo

Objetiva-se evidenciar, por meio da condução de uma pesquisa de caráter qualitativo e da adoção do método dedutivo, como a pandemia causada pela Covid-19 pode levar a um maior compliance estatal com as normas de proteção de direitos humanos. Por meio de uma análise histórica do desenvolvimento e proteção dos direitos humanos no cenário internacional, verifica-se que situações de crise têm a capacidade de produzir efeitos positivos e uma mudança no pensar da sociedade. Ainda, após uma reflexão acerca das consequências da pandemia na modificação das relações entre os países, denota-se como a situação excepcional atual, apesar de gerar efeitos adversos no que se refere à proteção dos direitos humanos, expondo a fragilidade dos sistemas de saúde e de suas políticas sociais, também traz consequências sobre o comportamento dos Estados para com seus indivíduos. Conclui-se que a atual pandemia tem a capacidade de elevar a percepção dos custos do noncompliance e dos benefícios que um maior foco na proteção dos direitos humanos tem em longo prazo, de forma a incentivar uma maior conformidade das práticas estatais com as normas internacionais de proteção de tais direitos.

Referências

  1. Acosta Alvarado, P. A. (2013). Más allá de la utopía: del diálogo interjudicial a la constitucionalización del derecho internacional [tese de doutorado, Universidade Complutense de Madrid]. Repositório do Instituto Universitário de Investigação Ortega e Gasset. http://eprints.ucm.es/28119/1/T35645.pdf
  2. Amaral Júnior, A. e Jubilut, L. L. (2009). O Direito Internacional dos Direitos Humanos e o Supremo Tribunal Federal. Em: A. Amaral Júnior e L. L. Jubilut (coords.), O STF e o Direito Internacional dos Direitos Humanos (pp. 30-49). Editora Quartier Latin do Brasil.
  3. Buergenthal, T. (1998). International human rights. West Publishing Co.
  4. Calixto, A. J. e Carvalho, L. C. de. (2017). Pluralismo jurídico: uma nova perspectiva a respeito da relação entre os sistemas jurídicos internacional e interno. Em M. Figueiredo e L. G. A. Conci (coords.); K. Gerber (org.), Constitucionalismo multinível e pluralismo jurídico (pp. 3-24). Lumen Juris.
  5. Carneiro, C. L. e Wegmann, S. (2017). Institutional complexity in the Inter-American Human Rights System: An investigation of the prohibition of torture. The International Journal of Human Rights, 1-20. http://dx.doi.org/10.1080/13642987.2017.1290322
  6. Charleaux, J. P. (2020, 8 de abril). Por que Trump ataca a Organização Mundial da Saúde. https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/04/08/Por-que-Trump-ataca-a-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde.
  7. Chaynes, A. e Chaynes, A. H. (1993). On Compliance. International Organization, 47(2), 175-205. https://doi.org/10.1017/S0020818300027910
  8. Cole, W. M. (2012). Human Rights as myth and ceremony? Reevaluating the effectiveness of Human Rights Treaties. American Journal of Sociology, 117(4), 1131-1171. https://doi.org/10.1086/662706
  9. Dunoff, J. L. e Pollack, M. A. (2013). International law and international relations: introducing an interdisciplinary dialogue. Em J. L. Dunoff e M. A. Pollack (eds.), Interdisciplinary perspectives on international law and international relations: The state of the art (pp. 3-32). Cambridge University Press.
  10. Ferrajoli, L. (2020). O vírus põe a globalização de joelhos (M. Sbardelotto, trad.). http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/597204-o-virus-poe-a-globalizacao-de-joelhos-artigo-de-luigi-ferrajoli
  11. Ferrarese, M. R. (2009). When national actors become transnational: Transjudicial dialogue between democracy and constitutionalism. Global Jurist, 9(1). http://www.europeanrights.eu/public/commenti/testo_maschera_ferrarese.pdf
  12. Floh, F. (2008). Direito internacional contemporâneo: elementos para a configuração de um direito internacional na ordem internacional neo-westfaliana. Em P. B. Casella et al. (coords.), Direito internacional, humanismo e globalidade (pp. 219-235). Atlas.
  13. Goodman, R. e Jinks, D. (2004). How to influence States: Socialization and International Human Rights Law. Duke Law Journal, 54(3), 621-703. https://scholarship.law.duke.edu/dlj/vol54/iss3/1
  14. Guzman, A. T. (2002). International law: A compliance based theory. California Law Review, 90, 1823-1888.
  15. Harner-Burton, E. M. (2005). Trading Human Rights: How preferential trade agreements influence government repression. International Organization, 59(3), 593-629. https://doi.org/10.1017/S0020818305050216.
  16. Hafner-Burton, E. M. e Tsutsui, K. (2005). Human Rights in a globalizing world: The paradox of empty promises. American Journal of Sociology, 110(5), 1373-1411. https://ssrn.com/abstract=2702044
  17. Hathaway, O. A. (2002). Do Human Rights Treaties make a difference? Yale Law School Legal Scholarship Repository, 111, 1935-2042. https://digitalcommons.law.yale.edu/ylj/vol111/iss8/11
  18. Hug, S. e Wegmann, S. (2016). Complying with Human Rights. International Interactions, 42(4), 590-615. https://doi.org/10.1080/03050629.2016.1185712
  19. Human Rights Watch [HRW]. (2020, 23 de março). Dimensões de direitos humanos na resposta à COVID-19. https://www.hrw.org/pt/news/2020/03/23/339866
  20. Keith, L. C. (1999). The United Nations International Covenant on Civil and Political Rights: Does it make a difference in Human Rights behavior? Journal of Peace Research, 36(1), 95-118. https://www.jstor.org/stable/451106
  21. Koskenniemi, M. (2009). Miserable comforters: International relations as new natural law. European Journal of International Relations, 15(3), 395-422. https://doi.org/10.1177/1354066109338229
  22. Luño, P. (2004). Los derechos fundamentales (8.ª ed.). Editorial Tecnos.
  23. Nay, O. (2020, 20 de abril). Can a virus undermine human rights? https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S24682667%2820%2930092-X
  24. Neumayer, E. (2005). Do International Human Rights Treaties improve respect for Human Rights? The Journal of Conflict Resolution, 4(6), 925-953. https://doi.org/10.1177/0022002705281667
  25. Organização das Nações Unidas [ONU]. (1945, 26 de junho). Carta das Nações Unidas. https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2017/11/A-Carta-das-Na%C3%A7%C3%B5es-Unidas.pdf
  26. Organização das Nações Unidas [ONU]. (2020a, abril). COVID-19 and human rights: we are all in this together. https://www.un.org/victimsofterrorism/sites/www.un.org.victimsofterrorism/files/un_-_human_rights_and_covid_april_2020.pdf
  27. Organização das Nações Unidas [ONU]. Assembleia-geral. (2020b, 2 de abril). Resolução n. A/RES/74/270: Global solidarity to fight the coronavirus disease 2019 (COVID-19).
  28. Organização Mundial da Saúde [OMS]. (1946, 22 de julho). Constituição da Organização Mundial da Saúde. https://apps.who.int/gb/bd/PDF/bd47/EN/constitution-en.pdf
  29. Organização Mundial da Saúde [OMS]. Escritório regional da Europa. (2018). Milestones for health over 70 years. http://www.euro.who.int/en/about-us/organization/who-at-70/milestones-for-healthover-70-years
  30. Organização Mundial da Saúde [OMS]. (2020a, 21 de abril). Addressing Human Rights as key to COVID-19 Response. https://www.who.int/publications-detail/addressing-human-rights-as-key-to-the-covid-19-response
  31. Organização Mundial da Saúde [OMS]. (2020b, 23 de julho). Coronavirus disease (COVID-19): Situation report n. 184. https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/situation-reports
  32. O’Sullivan, M. (2019). The levelling: What’s next after globalization. PublicAffairs.
  33. Peters, A. (2006). Compensatory constitutionalism: The function and potential of fundamental international norms and structures. Leiden Journal of International Law, 19(3), 579-610. https://doi.org/10.1017/S0922156506003487
  34. Piovesan, F. (2013). Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional (14.ª ed.). Saraiva.
  35. Ramos, A. de C. (2012). A relação entre o Direito Internacional e o Direito interno no contexto da pluralidade de ordens jurídicas. VII Anuário Brasileiro de Direito Internacional, 1(12), 99-134. http://centrodireitointernacional.com.br/publicacoes/anuario-brasileiro-de-direito-internacional/
  36. Simmons, B. (2009). Mobilizing for Human Rights: International law in domestic politics. Cambridge University Press.
  37. Sloboda, P. M. P. e Tavares, S. M. (2014). Direito Interno e Direito Internacional: integração sistêmica. Em W. Menezes, C. S. Anunciação e G. M. Vieira (orgs.), Direito Internacional em expansão (pp. 504-514). Arraes Editores.
  38. Taiar, R. (2009). Direito Internacional dos Direitos Humanos: uma discussão acerca da relativização da soberania face à efetivação da proteção internacional dos Direitos Humanos [tese de doutorado, Universidade de São Paulo]. Repositório de teses e dissertações da Universidade de São Paulo. https://doi.org/10.11606/T.2.2009.tde-24112009-133818
  39. Trindade, A. A. C. (2006). Desafios e conquistas do Direito Internacional dos Direitos Humanos no início do século XXI. https://www.oas.org/dil/esp/407490%20cancado%20trindade%20OEA%20CJI%20%20.def.pdf
  40. Von Stein, J. (2013). The engines of compliance. Em J. L. Dunoff e M. A. Pollack (eds.), Interdisciplinary perspectives on international law and international relations: The state of the art (pp. 477-501). Cambridge University Press.
Como Citar
Jank Calixto, A., & Coimbra de Carvalho, L. (2020). Direitos humanos em tempos de crise: os reflexos do coronavírus no compliance estatal com a sistemática internacional. Opinión Jurídica, 19(40), 441-464. https://doi.org/10.22395/ojum.v19n40a21

Downloads

Não há dados estatísticos.

Send mail to Author


Send Cancel

Estamos indexados em

  • CATEGORÍA C